|
| |
|
|
Índice de Temas
Matérias
Especiais
|
|
Relato de Experiência - Projeto Folclore na Escola
|
Escola Nova Geração
“Valorizar a maneira de agir, pensar, sentir de um povo, através de suas tradições culturais.”
Alessandra Monteiro
Benedita Lúcia
Francismeire Benevides
Juely Amaral
Kátia Teixeira
Odineth Ferreira
O projeto Folclore na Escola, da Escola Nova Geração, é desenvolvido com alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental (jardim, alfabetização e 1ª a 4ª séries), através de pesquisas, elevando o conhecimento deles. É uma atividade interessante e enriquecedora trabalhar com crianças de diferentes níveis de aprendizado, pois nos leva a um desafio maior, o do conhecimento pessoal.
É importante valorizar o folclore: ele representa o mais alto valor de uma nação, não importa em que setor se encontra ou a forma como pode ser classificado, pois está presente em todos os momentos de nossa vida, na canção de ninar, nas histórias, nos quitutes, nas cantigas de roda e brincadeiras, na maneira de falar.
O projeto ajuda a identificar e reconhecer as tradições de um povo e suas manifestações, valorizando a maneira de agir, pensar, sentir. O folclore brasileiro é muito variado, e as diversas regiões costumam apresentar manifestações específicas, de acordo com a formação cultural de seu povo. Basicamente, o folclore brasileiro apresenta três heranças culturais principais: a dos povos indígenas, a dos colonizadores portugueses e a dos negros africanos trazidos para o País como escravos. Embora em menor escala, são também importantes as contribuições dos imigrantes europeus que começaram a chegar ao Brasil. O folclore brasileiro abrange vários tipos de manifestação, desde as crendices, lendas e superstições até os folguedos e as festas populares, passando por danças e comidas típicas.
A palavra folclore foi utilizada pela primeira vez pelo professor inglês William John Thoms, em 22 de agosto de 1846, data considerada Dia Internacional do Folclore. Folk, em inglês, significa povo, e lore, conhecimento. Folclore, então, seria um conhecimento emanado do povo.
Para a educadora Lívia Merces, folclore é a expressão cultural de um povo. “Esses tipos de manifestações se dão de maneira informal, são passadas de geração para geração de modos distintos, como, por exemplo, na forma de cantigas, contos, lendas, culinária ou artesanato”, disse. A maneira como esse tipo de cultura é adquirido e absorvido por um povo é espontânea. “Folclore é o que podemos chamar de cultura popular.”
Segundo a educadora Lívia, “a manifestação folclórica é parte principal na identidade de um povo, pois, na maioria das vezes, são conhecimentos que têm sua origem na parcela mais comum da população”. Para o presidente da Comissão Paulista de Folclore, Toninho Macedo, a manifestação leva a marca da identidade das pessoas. “Não há, no folclore, uma mutabilidade rápida como há nos produtos do mercado. Mas as manifestações de folclore têm lastros que se perdem.”
O folclore está tão incluso em nossa vida que, segundo Macedo, é normal não percebermos sua presença. “Quando uma criança convida a outra para brincar na rua, quando vão soltar pipa, jogar bola ou bolinha de gude, estão vivendo o folclore, a cultura popular.”
Para alguns, o folclore vem, nos últimos tempos, se enfraquecendo. A influência estrangeira e a difusão da cultura de massa pela mídia podem levar à extinção ou a uma descaracterização do folclore típico brasileiro. Para Lívia Merces, a mídia pode atuar como vilã, mas também como heroína, pois pode sufocar a nossa cultura, importando produções de outros países, propiciando maior falta de informação da realidade e da cultura advinda do povo brasileiro. Mas, por outro lado, a mídia pode ser um veículo de difusão do nosso folclore. “Filmes, novelas, documentários de nossas lendas e histórias podem difundir nossa cultura. Ainda mais se considerarmos o fato de que a televisão chega até os pampas gaúchos.”
O projeto Folclore na Escola tem como objetivos incentivar a pesquisa; identificar o que é folclore; resgatar brinquedos e brincadeiras folclóricas; estimular a criatividade e a imaginação; valorizar a diversidade cultural; promover a conscientização das diferenças culturais e a integração entre escola, pais e alunos; levar o aluno a ter respeito pela cultura e pelos costumes; levá-lo a tomar atitudes e desenvolver hábitos de leitura e conhecimento literário; organizar idéias, pensamentos e oralidade; promover debates para melhor entender as lendas e os mitos. Esse trabalho se torna interdisciplinar, e o aluno participa ativamente da construção do conhecimento. Trabalhar com um projeto dessa natureza aguça a criatividade e tira da rotina professores e alunos, contribuindo para um melhor processo ensino–aprendizagem.
As informações contidas no projeto são atividades lúdicas que envolvem todas as áreas de conhecimento. Delas surgiram conteúdos como estudos contextualizados do vocabulário, tradições, lendas, provérbios, crendices populares, músicas, poesias e adivinhações; problemas envolvendo temas como remédio caseiro, massas e volumes da comida caseira, plantas medicinais (medicina alternativa), manifestações folclóricas regionais, cantigas de roda e trabalhos artísticos.
O projeto contribuiu para que os alunos desenvolvessem atividades e vivenciassem, de maneira concreta, as lendas, poesias, cantigas de roda, em um trabalho coletivo.
Muitas ciências, disciplinas e artes estão intensamente ligadas ao folclore, e, assim, a escola da Educação Infantil e do Ensino Fundamental pode e deve servir-se dele como excelente meio de transmissão de conhecimentos e revelador da cultura do povo.
Os alunos da Escola Nova Geração realizaram, no dia 25 de agosto de 2006, apresentações sobre a matéria pesquisada, conforme segue:
A Educação Infantil (maternal) apresentou as cantigas de roda, vivenciando-as como aprendizado.
Cantiga de roda
Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia-volta, volta e meia vamos dar. O anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou. Por isso, dona... faz favor de entrar na roda, diga um verso bem bonito, diga adeus e vá embora.
|
A turma do Jardim apresentou a história do saci-pererê, em forma de dramatização, e a dança da capoeira.
|
Lendas são histórias anônimas muito antigas que fazem parte da imaginação popular poética, em que a fantasia e o real se misturam, criando assombrações e seres naturais que não existem; elas são transmitidas de geração a geração. Com essa percepção, os alunos desenvolveram, através da dramatização, a história do bumba-meu-boi.
Em história que mamãe conta, aparece a do bicho-papão. Com a dramatização, os alunos puderam conhecer um pouco mais dessa lenda.
Trabalhamos de forma diferenciada, estudando o texto sobre folclore, pesquisando e analisando a diferença entre lendas e mitos. Levamos para a sala de aula o que foi pesquisado em livro e na Internet. O texto escolhido foi a lenda da Iara. Foram feitas a leitura do texto e a adaptação do enredo para que todos pudessem participar.
O enredo foi baseado na lenda. Acrescentamos falas e alguns personagens, procuramos aproximar ao máximo o enredo à lenda original da Iara. Conta-se que um pescador que saiu para pescar com seus amigos viu o rosto da sereia e ouviu seu canto. No primeiro dia, ele resistiu, seus amigos o impediram de ir com a deusa das águas; porém, no dia seguinte, o jovem foi levado para as profundezas, deixando somente seus objetos de pesca.
Um trabalho feito com as lendas regionais levou os alunos da 4ª série a pesquisarem e debaterem sobre a história do minhocão, história essa que nos leva a conhecer melhor o nosso folclore. Cuiabá tem seu folclore bem diferenciado. Conforme foi pesquisado, a história do minhocão aconteceu no Rio Cuiabá. Os alunos com certeza terão mais respeito pelo rio que deu origem à história.
A Escola Nova Geração trabalha com o projeto Folclore na Escola envolvendo todas as áreas de conhecimento:
- A sua maior aplicação será no setor de linguagem oral e escrita, com a amplitude dos contos, os objetivos éticos, morais e estéticos são atingidos. A criança é conduzida a um mundo de fantasias, no qual o espírito repousa e se encanta. O conto é um veículo educativo, usado nas mais antigas civilizações, para realce dos feitos dos seus heróis e das virtudes de seus antepassados. Os provérbios, que representam uma condensação de sabedoria; as adivinhas, que são testes de conhecimentos; as parlendas; os jogos; os brinquedos recreiam, estimulam as relações sociais e reafirmam a unidade grupal.
- Na História do Brasil, na Geografia e nas Ciências, existem as lendas relativas a escravidão, mineração, bandeiras, heróis, tipos brasileiros e seus traços culturais, ambientes em que vivem, serras, lagoas e mares, com seus mitos, animais, vegetais e minerais.
- Em Matemática, há inúmeras fórmulas e outras contribuições em parlendas ou poesias e jogos; em Desenho, trabalhos manuais, artes e artesanatos, a utilização do material local, com revalorização de seus usos e motivos típicos ornamentais; na Música, nossas melodias, nossos ritmos e instrumentos; há ainda a dança e o teatro, com apresentações da beleza que possuímos nesses campos.
O aproveitamento do folclore na escola de Educação Infantil e do Ensino Fundamental é das mais válidas contribuições, pela intenção formativa e pelo caráter de nacionalidade que imprime.
No Ensino Fundamental, o folclore passa ao plano informativo, numa prospecção profunda da cultura, que levará à conclusão consciente de que “toda cultura tem uma dignidade e, pela influência recíproca que exercem uma sobre as outras, todas elas fazem parte do patrimônio comum da humanidade”.
O folclore deve ser estudado como disciplina autônoma, através de suas implicações antropológicas, sociais, psicológicas e estéticas, para o conhecimento, em profundidade, da cultura popular.
No Brasil, é antiga a lição do aproveitamento do folclore no ensino. Já nas primeiras décadas de nossa vida, os jesuítas o aplicaram com extrema sabedoria na catequese, utilizando as danças e os cantos indígenas e encenando seus autos. Anchieta, nosso primeiro mestre, nos legou esse exemplo nos campos de Piratininga.
Para os professores da Escola Nova Geração, a cultura do povo precisa ser estudada, porque é objetivo de todos os governos dar ao povo melhores condições de vida. Ao comentar a revolução dos nossos tempos, um aspecto citado por Gilberto Freyre é “a luta pelo domínio, tanto quanto possível científico, do destino humano”. O autor considera esse domínio de modo algum absoluto, “pois deve conciliar-se com o daqueles valores de sempre, às vezes superiores à própria ciência e guardados pelos clássicos, pelas igrejas e pelo próprio folclore”.
O povo não tem noção de suas origens, perde suas referências, seu sentido de identidade, ficando passível de manipulação, preocupado com os modismos, e passa a consumir o que é determinado, e não o que prefere ou entende como melhor.
|
|
|
|